1° Simpósio sobre plantas e substâncias de uso da UFSC promove a troca livre de opiniões e experiências

26/03/2018 15:31

foto: Blog- OPAS

Unindo debates e gerando conhecimento, o I Simpósio de Pesquisa e Política sobre Plantas e Substâncias de Uso: O Estado da Arte em Santa Catarina ocorreu na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), nos dias 21 a 23 de fevereiro, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH). Com o objetivo de quebrar preconceitos, o evento reuniu indígenas, profissionais de saúde, agentes do Estado, pessoas que atuam nos campos das plantas medicinais e líderes religiosos.

O professor do departamento de antropologia, Alberto Groisman, juntamente com o Grupo de Ativismo Epistemológico da UFSC, teve a ideia de formar um evento como o Simpósio. O professor afirma que, apesar dos avanços tecnológicos e do tempo, ainda existe uma epistemologia negativa sobre plantas medicinais ou psicoativas dentro da ciência. De acordo com ele, “o grupo começou a avaliar que apesar de existirem inúmeras pesquisas mostrando os benefícios das plantas medicinais, ainda é hegemônico um olhar negativo sobre seu uso”.

Após discussões dentro do grupo sobre o tema das plantas e seu uso, foi levantada a hipótese da criação do Simpósio para reunir pessoas que de uma forma ou de outra trabalham com plantas e substâncias de uso. Alberto também afirma que o evento tem o principal objetivo de abrir os horizontes do conhecimento e assim reunir pessoas que trabalham com o uso e pensam a questão do uso de plantas e substâncias.

Maximiano Augusto Neto, que também é um dos organizadores do evento junto de Alberto e outros 20 pesquisadores, relata que a “ciência descaracterizou, na área de plantas, toda a ciência de observação do uso no cotidiano de plantas medicinais.” Pois, segundo o pesquisador, existe uma ‘cultura de laboratório’ que afirma que se uma planta não for devidamente analisada ela não pode ser utilizada. “Sendo que isso destrói toda uma cultura de pessoas que tinham o conhecimento empírico para o uso dessas plantas”.

Dentro dessa perspectiva, o estudante do doutorado de Ciências Sociais, Vinícius Ramos Lanças, que também faz parte da comissão organizadora do evento, afirma que existe uma “política proibicionista tão forte que, mesmo a maconha sendo uma planta comum no cotidiano do estudante, é estritamente proibido levar ela para um laboratório de pesquisa, para entender sobre seu uso e seus benefícios”.

Vinícius está desenvolvendo uma pesquisa sobre movimentos sociais e, particularmente, os movimentos antiproibicionistas. O estudante se interessou pelo evento, por sua característica de descentralizar o conhecimento e também dar voz a camadas da sociedade que geralmente não são ouvidas.

O estudante classifica que o peso negativo em torno do tema “legalização da maconha” gera lugares comuns dentro do debate, que sempre são repetidos e acatados pela sociedade no geral. “Muitos dizem que os únicos interessados pela legalização da maconha são ‘maconheiros’ ou que ‘se liberar, todos vão passar a usar’ “. Nesse sentido, eliminando do debate outros setores da sociedade como pesquisadores(as) e usuários(as) da cannabis medicinal e suas famílias.”

Maximiano ainda conta que a denominação de “droga” para a maconha descaracteriza o uso da planta e gera o desconhecimento das suas propriedades, “pois, ao extrair o princípio ativo da cannabis, é possível combater dores como da artrite, sendo que a extração dessa substância impossibilita o uso recreativo”.

O simpósio reuniu ideias e também experiências relacionadas ao uso medicinal das plantas, para assim estimular na sociedade a discussão sobre a utilização das plantas em todas as suas dimensões. O professor Alberto Groisman acredita que o evento surge em um momento importante de discussão política nacional, para a quebra de preconceitos e a substituição dessa epistemologia negativa por uma nova e mais consistente com os conhecimentos que vêm sendo produzidos por pesquisadores(as) e agentes sociais.

Linda Inês Pereira Lima
Comunicação Propesq UFSC

Diagramação: Leticia Silva