Interação universidade e empresa

05/03/2010 08:32

Veja o texto:

“Tenho acompanhado reflexões bem-intencionadas sobre como promover a interação universidade-empresa quebrando barreiras e aproximando esses dois mundos. Talvez essa discussão considere, hoje, aspectos já superados e que não representem mais barreira para o trabalho conjunto entre ICTs (Instituições de Ciência e Tecnologia) e empresas. Os interesses e os ritmos são diferentes. O importante é que já aprendemos, de ambos os lados, a conviver com essas diferenças. Aprendemos a explorar as vantagens da convivência das diferenças. Persistem, ainda, questões relativas à divisão da propriedade intelectual que consomem tempo e recursos importantes, mas que, bem ou mal, sempre chegam a algum desfecho positivo quando ambas as partes estão interessadas em cooperar efetivamente. Os caminhos estão sendo construídos e os resultados começam a aparecer. É inegável, hoje, que empresa e universidade se conhecem mutuamente e que a cooperação universidade-empresa já não supõe mais segredos ou barreiras intransponíveis. No entanto, nem tudo está resolvido na relação empresa-universidade.

O investimento em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) vem aumentando no Brasil, tendo passado de 0,98% do PIB em 2002 para 1,13% do PIB em 2008. No entanto, a iniciativa privada vem mantendo participação modesta inferior a 50%. Nos países da OCDE, o esforço é coordenado e o investimento do setor público efetivamente desdobra-se e alavanca investimentos no setor privado.

Enquanto nesses países academia e empresas trabalham de forma complementar e coordenada (os investimentos se somam na geração de resultados e desenvolvimento), no Brasil não há coerência estratégica entre o investimento público e o privado em PD&I. Com isso, os esforços não se somam e, às vezes, até concorrem. Nossas empresas pouco se beneficiam dos investimentos feitos pelo governo em ICTs, uma vez que as prioridades não são suficientemente discutidas e compartilhadas. Os processos de tomada de decisão e a governança do SNI (Sistema Nacional de Inovação) devem ser revisitados. É necessário que a sociedade discuta com profundidade quais os temas, projetos e programas a serem apoiados, tanto na academia quanto nas empresas.

A academia tem sido o principal foco de atenção das políticas públicas e dos recursos no Brasil. Mas o conhecimento gerado nas universidades não é utilizado pelas empresas de forma natural e automática. O reconhecimento de que as inovações ocorrem efetivamente nas empresas deve alterar o equilíbrio de forças dentro do SNI. O desdobramento natural é que haja maior participação das empresas nos processos decisórios em todos os níveis da Política Nacional de Ciência, Tecnologa & Inovação, desde a definição das prioridades e da composição dos Comitês Gestores até os procedimentos e critérios de avaliação de projetos. O fortalecimento da empresa como ator relevante no SNI implica uma revisão da governança do sistema e da vocação de suas agências financiadoras.”
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Carlos Calmanovici é engenheiro Ph.D da área de I&T da Braskem e vice-presidente da Anpei