Pesquisa com participação da UFSC lança raio-x da ciência e conservação de campos e savanas brasileiros

24/06/2022 12:03

Os ecossistemas abertos – como campos sulinos, campos de altitude, cerrado, dunas e restingas – correspondem a 27% da vegetação natural do Brasil, mas sua conservação é negligenciada. Isso é o que aponta o recém publicado artigo Placing Brazil’s grasslands and savannas on the map of science and conservationfruto do estudo de um grupo de pesquisadores, entre eles a professora da UFSC Michele de Sá Dechoum, do departamento de Ecologia e Zoologia. O trabalho integra a nova edição da revista Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics.

Imagem ilustra distribuição original e remanescentes

A pesquisa teve a liderança do projeto GrassSyn, que integra o Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos do CNPq, e se dedica a estudar esses ecossistemas, caracterizados pela presença marcante de gramíneas. O trabalho evidenciou o quão pouco se sabe sobre o tema: há uma lacuna de mapas com alta qualidade para as áreas, sendo que algumas áreas sequer estão mapeadas. Segundo Michele, a ausência de métodos comuns de pesquisa para esses ambientes dificulta a realização de inventário – o primeiro passo para se traçar estratégias de conservação. Os autores ressaltam que a falta de uma metodologia mais padronizada faz com que seja muito difícil interligar os poucos dados existentes.

“A ideia desse trabalho é apresentar, na forma de síntese, quais são os ecossistemas graminosos brasileiros, procurando uma linguagem em comum, tanto para a pesquisa quanto para a conservação desses ambientes”, explica Gerhard Overbeck, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador da pesquisa. Conforme o estudo, 46% desses ambientes já foram perdidos para o desmatamento e transformados para outros usos como a agricultura e pastagens cultivadas.

Os autores também relatam equívocos sobre as características e dinâmicas desses ecossistemas e também quanto à terminologia utilizada. Conforme a pesquisa, ambientes diferentes são denominados da mesma forma ou um mesmo ambiente é denominado de formas diferentes a cada região. Isso impediria uma comunicação adequada sobre as savanas e campos do Brasil, tanto dentro do país quanto internacionalmente.

O artigo procura definir cada ambiente e suas características mais marcantes, localização geográfica, dinâmicas ecológicas (como a relação com animais herbívoros e o fogo natural, por exemplo) e trabalhos acadêmicos de referência. Traz, ainda, os termos utilizados no Brasil para a identificação de cada um desses ecossistemas e o termo correspondente em inglês para o uso internacional. “Acertar toda a terminologia para identificar a diversidade desses ecossistemas foi um primeiro passo para podermos conhecer melhor e, portanto, conservar melhor esses ambientes”, destaca Luciana Menezes, também da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e uma das autoras do trabalho.

Para Overbeck, há, ainda, uma grande necessidade de investimento em trabalhos de pesquisa de campo para a construção de um conhecimento mais amplo e sólido sobre esses ecossistemas. “Temos muitas áreas ainda pouco conhecidas, ainda há muito trabalho a ser feito para garantir esse conhecimento e a possibilidade de avaliação da conservação desses ambientes”, destaca.

Com informações da assessoria do SinBiose

 

Fonte: Notícias UFSC