Elas na Ciência – Teresa Kleba Lisboa

02/03/2021 07:00

Dia 11 de fevereiro é o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. Pensando nisso e participando da agenda oficial da UFSC, a Pró-reitoria de Pesquisa da UFSC elaborou uma série descontraída, em formato de minientrevista com cinco perguntas. A intenção da série é prestigiar o trabalho das pesquisadoras e a importância de tê-las em nossa universidade.

‘Elas na Ciência’ traz um pouco das pesquisas, da perspectiva e dos conselhos que as cientistas têm para dar àquelas jovens mulheres que almejam ingressar no mundo científico.

A quarta pesquisadora é Teresa Kleba Lisboa, do departamento de Serviço Social da UFSC.

 

Teresa Kleba Lisboa

Confira a minientrevista:

  • Por que decidiu atuar nessa área?
“Decidi entrar na área dos Estudos Feministas, mais especificamente nos temas Equidade de Gênero nas Políticas Públicas e Violências de Gênero, porque ao longo da minha carreira de docente no curso de Serviço Social presenciei muitas injustiças, e me dei conta que as mulheres são as mais afetadas em relação a todos os tipos de desigualdade: são as mais exploradas no campo econômico, muitas vezes ganham salário inferior aos homens exercendo os mesmos tipos de trabalho; à elas são destinados a maioria dos serviços domésticos, tarefas relacionadas ao cuidado com os doentes, idosos e crianças; são elas que estão na base da pirâmide social em termos de discriminação racial, pobreza – ‘a pobreza tem rosto de mulher’; são elas que se submetem aos serviços mais humildes, invisibilizados e não reconhecidos como ‘serviços de limpeza’, diaristas, cuidadoras, empregadas domésticas entre outros. São elas que sofrem todos os tipos de violência, desde violência física até a psicológica, sexual e patrimonial. São elas que sofrem com o racismo estrutural, com o machismo exacerbado e com a misoginia da maioria dos gestores que desempenham cargos políticos. Enfim, não tem como não se indignar com a realidade que se apresenta no cotidiano de intervenção da nossa profissão – a de Assistentes Sociais.”
  • Quais pesquisas está desenvolvendo?
“Atualmente estou na coordenação da implementação do Observatório da Violência de Santa Catarina, desenvolvo pesquisas na área da violência de gênero, e uma específica com mulheres haitianas: Trajetória de Mulheres Haitianas: Migrações Transnacionais e Violências de Gênero.
  • Já sofreu machismo em seu campo de atuação?
“Como professora pesquisadora do Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da UFSC e uma das coordenadoras da atual gestão deste Instituto, sofremos muitos tipos de machismo, inclusive por parte de professores desta Instituição. Somos chamadas de ‘Feminázias’, ‘Mal amadas’, e uma série de outras nomeações estereotipadas, que lamentavelmente vêm de pessoas que nunca pararam para pensar sobre o que é realmente o significado da palavra. Os Feminismos propõem desconstruir os papéis impostos a homens e mulheres pela sociedade com base no pressuposto de que a diferença sexual é o principal fundamento da subordinação feminina. Os Feminismos têm despontado na cena política como um dever/denúncia exigindo respeito ao corpo das mulheres e à descriminalização do aborto; denunciando a impunidade em relação aos altos índices de violências contra mulheres e população LGBTT e reivindicando equidade de gênero nas políticas públicas.”
  • Para você, qual a importância de ser uma mulher que produz ciência?
“Sabemos que a ciência é uma forma de discurso sujeito a formulações e critérios daquilo que um determinado grupo (geralmente homens brancos, ocidentais da classe dominante), considerado autoridade, valida como verdade. Durante muito tempo, as mulheres foram excluídas como agentes do conhecimento, foram invisibilizadas como sujeitos da ciência. Os estudos feministas defendem que as mulheres também produzem ciência, que o sujeito do conhecimento é um indivíduo histórico particular, cujo corpo, interesses, emoções e razão estão constituídos por seu contexto histórico concreto, e são especialmente relevantes para a epistemologia. Mais do que investigar as causas da opressão e o grau de exploração pelos quais passam as mulheres, os movimentos feministas se propõem a lutar pela sua superação. É por esse motivo que a relação entre prática e teoria é tão importante para o feminismo (um pé na academia e outro na militância), porque parte-se do pressuposto de que nossos objetos de estudo emergem de nossas experiências concretas, dos nossos trabalhos com mulheres, das nossas imersões nos contextos socioeconômicos e culturais em que as mesmas vivem e se situam.”
  • O que diria para uma jovem que almeja ingressar na pós-graduação?
“Eu diria em primeiro lugar que ela é uma pessoa privilegiada, pois chegando até aqui (pós-graduação) conquistou um espaço que muitas jovens almejam e são impedidas pelas circunstâncias (de desigualdades de gênero, raça/etnia e classe) que já foram mencionados acima. Em segundo lugar, diria para essa jovem se apropriar das oportunidades que o ensino lhe oferece, imergir no campo do conhecimento e deixar ‘se afetar’ pelas vivências, experiências e cotidiano das mulheres no seu entorno, observando com olhar aguçado as diferentes estratégias que as mesmas utilizam para sobreviver e, a partir dessa imersão, desse comprometimento, definir seu objeto de investigação e sua linha de pesquisa.”

Programação tem identidade visual da Coordenadoria de Design e Programação Visual/Agecom.

Apoiar a ciência produzida pelas mulheres é apoiar a diversidade!

Carlos Venâncio
Bolsista de jornalismo da Pró-reitoria de Pesquisa – UFSC

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