Conheça o novo Instituto brasileiro dedicado a investir em jovens cientistas do país

05/04/2017 16:09

Para aumentar o incentivo à ciência no Brasil foi lançado o Instituto Serrapilheira, uma iniciativa de João Moreira Salles e Branca Vianna Moreira Salles, com prioridade para o público jovem. O instituto privado do terceiro setor irá incentivar propostas de pesquisas inovadoras e ousadas a partir do financiamento à ciência com recursos livres. O mais importante será o apoio ao pesquisador, sem cobrança de publicações ou resultados imediatos.

cred Claudio Andrade

Da esquerda para direita: Rodrigo Fiães, João Moreira Salles, Hugo Aguilaniu, Edgar Dutra Zanotto

O projeto, que começou a ser planejado em 2014, conta com a participação de diferentes pesquisadores no conselho. Para criar uma base sólida, os idealizadores dedicaram três anos para visitar agências de fomento, fundações de apoio à ciência e organizações do terceiro setor. Reuniram-se com pesquisadores brasileiros para entender quais eram as necessidades do setor e como uma instituição privada poderia atender à comunidade científica. Segundo Moreira Salles, foram mais de 80 reuniões em 12 meses e após esse processo o conselho publicou edital para a escolha da diretoria executiva que compõe o Instituto atualmente.

Para a seleção do diretor-presidente foi organizada uma chamada nacional e internacional. Foram recebidos ao todo 138 currículos, vindos do Brasil e de outras partes do mundo. Um comitê de busca formado por cientistas e estudiosos científicos do país analisou os documentos, entrevistou candidatos e escolheu o geneticista francês Hugo Aguilaniu para diretor-presidente do Instituto

O lançamento aconteceu em 22 de março no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro. João Moreira Salles e seu assessor, Rodrigo Fiães, apresentaram os dois principais responsáveis pela gestão do Instituto: o diretor-presidente Hugo Aguilaniu (na foto ao lado) e o presidente do Conselho Científico, o Acadêmico da Universidade Federal de São Carlos, Edgar Dutra Zanotto. Também fazem parte da diretoria do conselho outros nomes da ciência brasileira.
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Após essa escolha, os idealizadores organizaram o Instituto na forma de uma associação civil sem fins lucrativos, ou seja, do terceiro setor. Atualmente opera com os recursos pessoais de Branca e João no valor de $350 milhões de reais. O orçamento virá do ganho real (receita bruta acima da inflação menos impostos) resultante da aplicação financeira desse montante. Isso significaria hoje um valor entre R$16 e R$ 18 milhões por ano.

A presidente do Conselho Administrativo, Branca Vianna Moreira Salles, se uniu ao marido nessa iniciativa por ter a percepção que a ciência é desvalorizada no Brasil. “Na nossa literatura, por exemplo, não existem personagens cientistas.” Em função disso, o outro foco do Instituto Serrapilheira será a divulgação científica. O diretor-presidente Hugo Aguilaniu destacou que querem atingir os jovens e incentivá-los, “mostrar a eles que a ciência é uma coisa legal”. Ele ainda conta que o Instituto tem como objetivo apoiar pesquisas nas ciências da vida e físicas, engenharias e também na matemática. “Queremos identificar a excelência da pesquisa científica realizada no país e apoiá-la da forma mais livre possível.”

Aguilaniu ainda conta que uma das ideias principais é ter um número reduzido de projetos, mas que sejam de nível internacional, para serem publicados em periódicos científicos como Science e Nature. O fomento a projetos de letramento científico, segundo o diretor-presidente também será uma demanda do Instituto. “Queremos atingir os jovens, incentivá-los”, conclui Hugo Aguilaniu, lembrando a importância de perpetuar a pesquisa na ciência.

Seleção de projetos começará ainda esse ano

cred Claudio Andrade

Da esquerda para a direita: Edgar Dutra Zanotto, Hugo Aguilaniu, João Moreira Salles

Os projetos serão selecionados pelo Conselho Científico do Instituto, formado por 12 cientistas. A previsão é de que o primeiro edital seja divulgado no segundo semestre deste ano. Zanotto, presidente do Conselho Científico, ressaltou que a comunidade científica brasileira conta com mais de 100 mil pesquisadores doutores. “Em princípio, não importa se o projeto já tem algum financiamento público. Se for excelente, poderá ser apoiado também por nós e obter dinheiro livre, em longo prazo.”

Uma das grandes ofertas do Instituto, segundo o presidente do Conselho de cientistas, será a liberdade e flexibilidade para a gestão dos recursos. Segundo ele, tudo será tratado com transparência absoluta. “A ideia é que os membros do Conselho atuem também como consultores e orientadores para fazer os projetos explorarem ao máximo sua capacidade de impacto científico.”
A prioridade dos temas de pesquisa, segundo Moreira Salles, será dada pela excelência científica do projeto. “Pode ser ciência básica ou aplicada, pretendemos investir os nossos projetos em poucos pesquisadores, mas que sejam de excelência.” Destacou também a existência de critérios em segundo plano, envolvendo questões de gênero, raça e região geográfica.

Mas o que significa “Serrapilheira”?

Serrapilheira é o nome utilizado nas ciências naturais para identificar o manto de folhas que se forma no solo das florestas. Dessa maneira promove nutrição para a mata ao redor. Segundo João Moreira Salles, o significado do nome em si conta muito do que o Instituto irá promover no futuro. “O objetivo é contribuir para a nutrição e crescimento da ciência brasileira”.

Fontes:
Comunicação Serrapilheira
Academia Brasileira de Ciências ABC 

Linda Inês Pereira
Estagiária de Jornalismo da PROPESQ/UFSC