Cientistas pela UFSC – Sérgio Colle

15/10/2020 08:28

A Propesq dá continuidade à série Cientistas pela UFSC, com o objetivo de dar visibilidade a pesquisadores e seus respectivos trabalhos. A série foi concebida e as entrevistas foram realizadas pelo ex-bolsista de Jornalismo, Eduardo Vargas.

Os tópicos das entrevistas foram categorizados, quando compatível, em: “Quem é?”, que se trata de uma breve biografia e dos melhores momentos; “Magnum Opus”, termo utilizado para denominar a maior obra, que consiste em visibilizar o(s) destaque(s) do pesquisador; “Alma Mater”, termo utilizado para abordar a instituição de ensino que fomentou alguém intelectualmente e sobre a relação do pesquisador com a UFSC; “Mão Estendida”, que descreve as principais parcerias feitas ao longo da carreira do pesquisador; “O que diria para um aluno?”, com recomendações para quem está ingressando ou irá ingressar na área; “Desafios”, que trata dos grandes obstáculos no campo de conhecimento nos próximos anos; e “Um breve panorama”, cuja função é evidenciar como a UFSC está em relação às outras universidades no campo de pesquisa do entrevistado.

Quem é: O professor Sérgio Colle completa neste ano 47 anos de trabalho na UFSC. Conforme suas palavras, ele continua fazendo o que gosta e sente-se premiado pelo destino que lhe foi reservado. Foi contemplado com Bolsa Sênior do CNPq em 2020. Leciona em tempo integral e dedicação exclusiva no Departamento de Engenharia Mecânica e coordena o Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia – LEPTEN, no qual atuam seus colegas de trabalho, a professora Marcia B. H. Mantelli, o professor Julio César Passos e o professor Alexandre Kupka da Silva, todos atuantes em pesquisa na área da engenharia. Recebeu a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2008 e, atualmente, é membro titular da Academia Nacional de Engenharia, ocupando a cadeira de Caspar Erich Stemmer, seu ex-professor e ex-reitor da UFSC. Sente-se honrado de ter participado do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC, considerado a primeira escola de engenharia moderna do país, graças a obstinada dedicação do professor Stemmer.

Colle no Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia (LEPTEN).

Magnum Opus: A Comenda recebida pelo professor Colle reflete seu mérito decorrente de sua dedicação e contribuições ao ensino e pesquisa, sobretudo no tocante a formação de pesquisadores e engenheiros que presentemente ocupam postos-chave e distintas posições notáveis em empresas e universidades qualificadas. Foi coordenador de convênio com a Universidade de Stuttgart / IKE – Alemanha, no contexto do qual, com o apoio da AEB (Agência Espacial Brasileira) e do CNPq, fundou o laboratório de tubos de calor do Lepten. Esse embrionário laboratório e seu notável desdobramento deveu-se sobretudo ao incansável trabalho da professora Mantelli. Foi também coordenador de projeto de cooperação internacional celebrado com o IGMK (Instituto de Geofísica e Meteorologia de Colônia – Alemanha) no contexto do qual transferiu para o país tecnologia de computação, da qual resultou a publicação pelo Instituto Nacional de Meteorologia – INMET – do primeiro Atlas de Radiação Solar do Brasil, baseado em dados de satélite, levado a efeito pelo professor Enio Bueno Pereira do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –  INPE, alunos bolsistas do Lepten e  pesquisadores alemães.

Na área acadêmica, lecionou disciplinas de Energia Solar, Método Inverso em Transferência de Calor, Termodinâmica, Sistemas Térmicos e Teoria Clássica do Eletromagnetismo e Aplicação à Óptica Geométrica. Publicou nos anais da Academia Brasileira de Ciências (ABC), em 2016, artigo versando sobre uma extensão da teoria termodinâmica do físico russo Lev Landau ao fenômeno do choque normal no escoamento de fluidos compressíveis em tubulações. Seus artigos em parceria com alunos de mestrado e doutorado refletem sua contínua produção. Publicou dois livros, o primeiro intitulado “Lições de Termodinâmica Clássica”, em cinco volumes, perfazendo 1133 páginas e “Teoria Clássica do Eletromagnetismo e sua Aplicação à Óptica Geométrica”, perfazendo 386 páginas, publicados como e-book pela Amazon. 

Alma Mater: Seu local de trabalho usual é o Lepten, laboratório de referência nacional e internacional, construído sobretudo com recursos advindos da Petrobrás. Esse laboratório abriga atividades dos professores referidos, cuja continuidade resulta do princípio de que ele e seus colegas sempre buscaram recursos externos, graças aos quais o laboratório se manteve até o presente. O professor pontua que sempre contou com a boa vontade e a eficiência dos funcionários da UFSC, no trato da tramitação de processos e execução de serviços afins da instituição. Colle graduou-se na UFSC em 1970, concluiu seu mestrado em 1972 e seu doutorado em 1976, ambos na UFRJ. Permaneceu como professor e pesquisador mesmo podendo aposentar-se por duas vezes, não o fazendo por ter utilizado legislações que lhe permitiram permanecer. Sente-se orgulhoso de ter dado sua fração de contribuição ao departamento e de ter herdado, mesmo que modestamente, o espírito empreendedor de seu saudoso e honrado professor Stemmer. Dentre as atividades que realiza, prefere ministrar aulas para estudantes de graduação, o que considera uma tarefa frutífera e dinâmica, com trocas de informação e bons alunos, os quais, diga-se de passagem, concluíram o volume de exercícios resolvidos de termodinâmica, respectivos aos volumes I a IV de sua obra.

Colle é pioneiro como representante e contribuinte na rede estratégica de monitoração climática Baseline Surface Radiation Network (BSRN), constituída de estações de superfície que fornecem dados para estudos das mudanças climáticas no mundo. Colle conseguiu manter a estação BSRN operando desde 1992, graças aos seus alunos e com o apoio da Petrobrás.

Vista da área externa do Laboratório de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia (LEPTEN).

Mão estendida: Ao longo de sua carreira como pesquisador, professor Colle destaca projetos de pesquisa contratados com a Pirelli Cabos S/A e Petrobrás, Finep, AEB, ONS, CNPq, Aneel, Celesc, Cerradinho Bio, Tigre, além do que, outros projetos contratados com as empresas Volvo, Tractebel e Embraer, desta vez sob a iniciativa da professora Mantelli. O Lepten desenvolveu e desenvolve parcerias com diferentes universidades nacionais e estrangeiras, nas áreas de pesquisa relativas aos membros do laboratório.   

O que diria para um aluno: Colle faz questão de destacar que um aluno novo deve ser dedicado, atento às transformações da economia mundial e competitivo e sujeito à educação continuada imposta pela metamorfose das engenharias no mundo. 

Desafios: Para os próximos anos, a previsão do professor é que a engenharia mundial estará sujeita a novas mudanças conceituais e curriculares, condicionadas pelo mercado de trabalho dos engenheiros no futuro. Não descarta o fim de algumas engenharias cuja matriz curricular não mais responde às necessidades da economia moderna. Nas palavras dele “a engenharia é multidisciplinar e está fadada à metamorfose, pois sua ‘placa mãe’ foi projetada para que muitas engenharias sucumbissem”.

Um breve panorama: Ao falar sobre o desenvolvimento do Lepten, conta que a abertura à iniciativa privada e a busca de parcerias externas foi vital para o sucesso alcançado. Enfatiza que esse é um caminho a seguir, não somente para assegurar a permanência do laboratório, mas também para realizar a meta de internacionalização tão alardeada pelo MEC. Confessa com certo desapontamento que o Lepten é um dos poucos laboratórios ainda ativos na área de conversão de energia, sobrevivente das crises que se sucederam em prejuízo da ciência e tecnologia no Brasil. Pontua ele que o Brasil não alcançou uma posição de destaque internacional na inovação porque a ciência, mesmo que utilitarista, nunca foi inserida de fato na cultura nacional, na contramão de países que presentemente ostentam a liderança quanto à inovação e à propriedade industrial. 

À seguir, algumas fotos que configuram o trabalho de Colle:

 

Concepção, entrevista e redação: Eduardo Vargas