Elas na Ciência – Mara Coelho de Souza Lago
Dia 11 de fevereiro é o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. Pensando nisso e participando da agenda oficial da UFSC, a Pró-reitoria de Pesquisa da UFSC elaborou uma série descontraída, em formato de minientrevista com cinco perguntas. A intenção da série é prestigiar o trabalho das pesquisadoras e a importância de tê-las em nossa universidade.
‘Elas na Ciência’ traz um pouco das pesquisas, da perspectiva e dos conselhos que as cientistas têm para dar àquelas jovens mulheres que almejam ingressar no mundo científico.
A sexta pesquisadora é Mara Coelho de Souza Lago, do departamento de Psicologia da UFSC.
Confira a minientrevista:
- Por que decidiu atuar nessa área?
“Vim de uma família de professoras primárias talentosas do Rio Grande do Sul e tive excelentes mestras e mestres desde meus estudos iniciais, em Santa Catarina. Foram fatores de identificação que provavelmente me levaram a considerar desde sempre como vocação a carreira escolhida do magistério.”
- Quais pesquisas está desenvolvendo?
“Tenho múltiplos interesses teóricos e disciplinares, educação, antropologia, psicologia social, psicanálise, o que só me coloca confortável nos espaços interdisciplinares. Unindo estes interesses teóricos e trajetória de vida como feminista, em continuidade às pesquisas etnográficas iniciais na Ilha de Santa Catarina e Região Metropolitana de Florianópolis, atenta a questões étnicas, geracionais, de classe, de gênero, atualmente me volto para os estudos feministas decoloniais, interesse compartilhado com inúmeras orientandas nos dois cursos de pós graduação em que atuo. E também, em função do trabalho editorial que venho desempenhando junto a uma grande equipe multidisciplinar de pesquisadoras na Revista Estudos Feministas (REF), tenho desenvolvido pesquisa documental, nesse e em outros periódicos acadêmicos, sobre gênero e campos disciplinares das ciências humanas, em geral.”
- Já sofreu machismo em seu campo de atuação?
“Inicialmente, a escolha de uma profissão considerada como feminina, de cuidado – o magistério – já nos protege um pouco do machismo, em relação às valorosas mulheres que se impõem em profissões tidas como masculinas. Constituída como feminista desde cedo, sempre respondi a ataques machistas não aceitando qualquer tentativa de secundarização das mulheres, o que contribuiu para que não me deixasse afetar pessoalmente pelo machismo. O que não significa que não tenha desenvolvido pela vida toda, uma absoluta revolta com todas as manifestações do machismo, que vulnerabilizam as pessoas, que precarizam muitas vidas. Vulnerabilização expressa nas vergonhosas estatísticas de violências contra mulheres e pessoas LGBTs que o Brasil exibe. Violências de gênero, assédios, estupros, feminicídios, interseccionadas a posições de raça, classe, etnia, geração. Estatísticas que nos diminuem como país e como povo.”
- Para você, qual a importância de ser uma mulher que produz ciência?
“Como parte de uma geração cujas avós e mães tiveram que lutar pelo direito à cidadania, à educação, ao trabalho no espaço público, sou muito consciente da grande importância das mulheres estarem em todos os espaços de produção de conhecimentos e tecnologias.
São inúmeras as mulheres que admiro nas ciências, as ‘duras’ e as humanidades, das nossas disciplinas sociais, das artes, música, literatura, cinema e teatro. Entre muitas mulheres, cito a professora Emiliana Cardoso da Silva, que idealizou o curso de Psicologia da UFSC e participou da criação da Faculdade de Educação, o embrião da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC). In memorian, destaco os nomes de Zahidé Muzart, nossa colega da UFSC que idealizou o encontro Fazendo Gênero e criou a Editora Mulheres, de Eclèa Bosi e Sylvia Leser de Mello, da Universidade de São Paulo, responsáveis pela criação do Instituto de Psicologia da USP. Presto homenagem também às pesquisadoras que compõem as frentes do Instituto de Estudos de Gênero (IEG/UFSC), junto às colegas dos cursos de Pós-graduação em Psicologia e Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas e a docentes que atuaram e atuam em outros cursos e programas: são mulheres que produzem pesquisas importantes, formaram e continuam formando novas pesquisadoras e mestres.
Ressalto o desempenho de todas as mulheres que produziram e produzem ciência na UFSC e nas demais instituições públicas de pesquisa e de ensino do país. O editorial do primeiro número da REF de 2021, coloca em destaque a importância da atuação de mulheres de ciência brasileiras em relação à pandemia da COVID 19, que viemos enfrentando em todo o mundo desde o início de 2020 e que tem sido particularmente terrível no Brasil.”
- O que diria para uma jovem que almeja ingressar na pós-graduação?
Bem vinda! Aqui é o seu lugar!
Apoiar a ciência produzida pelas mulheres é apoiar a diversidade!
Carlos Venâncio
Bolsista de jornalismo da Pró-reitoria de Pesquisa – UFSC