Elas na Ciência – Sandra Caponi

11/03/2021 07:00

Dia 11 de fevereiro é o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. Pensando nisso e participando da agenda oficial da UFSC, a Pró-reitoria de Pesquisa da UFSC elaborou uma série descontraída, em formato de minientrevista com cinco perguntas. A intenção da série é prestigiar o trabalho das pesquisadoras e a importância de tê-las em nossa universidade.

‘Elas na Ciência’ traz um pouco das pesquisas, da perspectiva e dos conselhos que as cientistas têm para dar àquelas jovens mulheres que almejam ingressar no mundo científico.

A sétima pesquisadora é Sandra Caponi, do departamento de Sociologia da UFSC.

 

Sandra Caponi

 

Confira a minientrevista:

  • Por que decidiu atuar nessa área?

“Na minha área de trabalho confluem estudos de história das ciências da saúde, estudos epistemológicos referidos ao modo como se constroem e validam diagnósticos e terapêuticas, estudos sociológicos referidos ao impacto do neoliberalismo nos sofrimentos psíquicos e ao papel da indústria de psicofármacos na definição de diagnósticos. A escolha dessa área de estudos está diretamente vinculada a minha formação foucaultiana e as minhas inquietações como mulher e como intelectual, profundamente comprometida com a questão das desigualdades de gênero, raça e classe, pois tenho plena consciência do impacto que essas inequidades tem em nossos corpos, em nossa saúde e em nossos sofrimentos. Acredito que essas pesquisas podem contribuir para mostrar as consequências dramáticas das desigualdades sociais no campo da saúde, em geral, e da saúde mental, em particular.”

 

  • Quais pesquisas está desenvolvendo?

“Atualmente minhas pesquisas estão centradas na questão da proliferação de diagnósticos psiquiátricos e terapêuticas psicofarmacológicas no campo da infância. Realizei estudos sobre os diagnósticos psiquiátricos tematizando o lugar atribuído à figura da mulher na história da psiquiatria. Coordeno um projeto Capes – Cofecub, com a Universidade Paris-8, denominado A disseminação dos saberes expertos no domínio da infância, e também um projeto sobre sofrimento psíquico de estudantes de graduação e de pós-graduação da UFSC. Por ter trabalhado com a temática da biopolítica e a história das epidemias, com a irrupção do Covid-19, devi retornar às pesquisas vinculadas à gestão biopolítica da pandemia, particularmente no Brasil. Uma gestão que considero como uma verdadeira necropolítica que nos expõe, cotidianamente, ao contágio e à morte.”

 

  • Já sofreu machismo em seu campo de atuação?

“Sim, inúmeras vezes. Lembro que, em uma oportunidade, éramos três colegas que participávamos de uma mesa redonda num Congresso Nacional de Saúde. Os dois homens falaram primeiro, quando chegou minha vez de falar, os dois colegas que estavam de meu lado, começaram a conversar como se estivessem num café, mostrando que a palestra não tinha nenhum interesse para eles. Devi parar de falar e dizer ao público que eu tinha escutado pacientemente as duas palestras e que esperava o mesmo respeito por parte deles, acrescentando que eu não continuaria minha exposição se eles continuavam falando. Vivenciei muitas situações semelhantes ao longo dos anos. Aprendi que nenhuma situação de machismo, seja violenta ou sutil, seja que se apresente sob a forma de uma agressão ou como uma simples piada, pode ou deve ser tolerada.”

 

  • Para você, qual a importância de ser uma mulher que produz ciência?

“Para mim é importante que as mulheres produzam ciência e tecnologia, pelo menos por duas razões. Porque só nós, mulheres, podemos falar dos efeitos de exclusão e silenciamento operados pela sociedade patriarcal em diferentes campos de saber e em diferentes contextos sociais.  Mas também porque, como cientistas, podemos contribuir no processo de produção, difusão e educação científica em diversos campos, apresentando respostas bem argumentadas contra esse negacionismo hoje existente, que destrói qualquer possibilidade de gerir adequadamente a pandemia. Não posso deixar de pensar na importância de uma visão feminista sobre o impacto das armas na vida das pessoas. Num momento de tantas mortes por Covid-19, com crianças que morrem vítimas das mal chamadas ‘balas perdidas’, e com tantas mulheres vítimas de feminicídio, por essas mesmas armas que o Estado libera.”

 

  • O que diria para uma jovem que almeja ingressar na pós-graduação?

“Para as jovens que hoje desejam iniciar uma pós-graduação eu diria que esse pode ser um momento de exercício de cuidado de si, um momento que tem que ser aproveitado para aprender, conhecer, debater e exercitar o espírito crítico. Sem dúvida, o esforço de realizar uma pós-graduação, ainda que possa resultar difícil ou cansativo, vale muito a pena para todas as mulheres que desejam realizar uma carreira acadêmica e desenvolver pesquisas socialmente relevantes, críticas e reflexivas, que permitam questionar o lugar subalterno, que, lamentavelmente, muitas mulheres ainda são obrigadas a aceitar em diferentes espaços, tanto laborais, quanto acadêmicos. Cientistas, médicas, engenheiras, químicas, sociólogas, filósofas, enfermeiras, físicas, assistentes sociais, dentre outras, são cada vez mais necessárias e indispensáveis para construir um mundo mais solidário e mais justo, com menos armas e mais argumentos e vacinas.”

 

Programação tem identidade visual da Coordenadoria de Design e Programação Visual/Agecom.

Apoiar a ciência produzida pelas mulheres é apoiar a diversidade!

Carlos Venâncio
Bolsista de jornalismo da Pró-reitoria de Pesquisa – UFSC

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