Pesquisa busca entender processos envolvidos na metástase e no reaparecimento de cânceres

18/07/2022 16:53

Em seu novo projeto de pesquisa, o professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Edroaldo Lummertz da Rocha procura compreender o processo de metástase do câncer de mama para a medula óssea e como se dá seu envolvimento no reaparecimento do tumor mesmo muitos anos após o tratamento com sucesso do tumor primário. O trabalho, que pode colaborar para o desenvolvimento de novas terapias que reduzam a propensão de reaparecimento de tumores, foi um dos dez selecionados na quinta chamada pública de apoio à ciência do Instituto Serrapilheira, uma instituição privada de fomento à ciência.

Células tumorais que se disseminam para a medula óssea sobrevivem mesmo após o tratamento quimioterápico e podem levar ao reaparecimento da doença. Foto: National Cancer Institute/Unsplash

Definida como a disseminação de células cancerosas para órgãos secundários, a metástase é a principal causa de morbidade e mortalidade relacionada ao câncer. Após a resseção do tumor primário, as células tumorais que se disseminaram para a medula óssea no início da formação do tumor sobrevivem mesmo após o tratamento quimioterápico, levando ao reaparecimento da doença meses ou anos após o tratamento bem-sucedido do tumor primário. “Ao chegar na medula óssea, estas células tumorais do câncer de mama entram em um estado de quiescência, permanecendo em repouso por muitos anos, se escondendo da destruição mediada por células imunológicas, e também sendo resistentes ao tratamento quimioterápico. Porém, por fatores ainda pouco compreendidos, estas células tumorais em repouso são reativadas anos depois, levando ao surgimento de metástases ósseas, que podem também se espalhar para múltiplos órgãos”, explica Edroaldo.

Ainda não está claro, no entanto, como essas células tumorais metastáticas se adaptam e sobrevivem na medula óssea durante os estágios iniciais do desenvolvimento do tumor, adquirem quimiorresistência durante o tratamento adjuvante e são reativadas para gerar metástase óssea, e possivelmente para outros órgãos. O estudo de Edroaldo pode ajudar a compreender os detalhes celulares e moleculares desses processos – o que é fundamental para encontrar possibilidades terapêuticas.

“A hipótese de trabalho do projeto é que as interações entre células tumorais metastáticas e microambientes especializados da medula óssea fornecem sinais que regulam características cruciais das células tumorais que se disseminaram para a medula, como o estado de repouso, quimiorresistência e reativação”, afirma o pesquisador. Para testar essa hipótese, será empregada uma abordagem inovadora baseada em imageamento da medula óssea, sequenciamento de transcriptoma (conjunto que envolve RNAs mensageiros, ribossômicos e transportadores, além de microRNAs) e algoritmos computacionais para definir redes de comunicação intercelular entre células tumorais e o microambiente da medula óssea.

Em testes com células e com animais, os pesquisadores irão inibir os genes criticamente importantes para a sobrevivência das células tumorais e esperam reduzir, ou até mesmo prevenir, o surgimento de metástases após a cirurgia. “Este estudo terá implicações importantes para entender o comportamento destas células tumorais e seus mecanismos de sobrevivência”, ressalta Edroaldo, enfatizando que o conhecimento gerado será utilizado para determinar se os programas de expressão de genes identificados poderão ser explorados para fins terapêuticos.

Conduzido no Laboratório de Biologia de Sistemas, coordenado por Edroaldo, o projeto é multidisciplinar e prevê colaborações de outros grupos de pesquisa, como o Laboratório de Farmacologia e Bioquímica do Câncer da UFSC (Labcancer), coordenado pelo professor Alfeu Zanotto Filho. O financiamento também proporcionará treinamento de alto nível nas áreas de biologia computacional, imunologia e biologia do câncer para estudantes de mestrado e doutorado.

Quinta chamada de apoio à ciência do Instituto Serrapilheira

O Instituto Serrapilheira anunciou, no dia 24 de Julho, os jovens pesquisadores selecionados em sua quinta chamada pública de apoio à ciência. A seleção buscou projetos originais e ousados com grandes perguntas que contribuam para o conhecimento fundamental em ciências naturais, ciência da computação e matemática. Na primeira etapa, 260 pessoas enviaram uma pré-proposta. Dessas, 43 foram chamadas a enviar propostas completas e, em seguida, foram entrevistadas por revisores internacionais. Ao final do processo, dez cientistas foram selecionados para receber o financiamento do instituto.

Além de Edroaldo, outra pesquisadora da UFSC foi contemplada: a professora do Departamento de Fitotecnia Catarina Jakovac irá investigar se a pecuária, a agricultura e o extrativismo levam à regeneração de florestas com adaptações a ambientes mais secos, descaracterizando a Amazônia e a Mata Atlântica como florestas úmidas.

 

Fonte: Notícias UFSC